Pró-Pátria

Publicado em 1908, trata-se de um livro de retórica grandiloquente. Um ensaio sobre o Brasil que vai além de tudo o que já lemos em libelos diversos porque ora é crítica, ora é ficção. Dir-se-ia um discurso em um português arcaico, porém risonho – hoje em dia assaltado pela frivolidade do recadinho rápido –, mas com uma contundência poucas vezes alcançada nas letras nacionais.

Começa com a exploração da borracha, depois vai para o café, analisa nossa espantosa lentidão nas estradas de ferro, e dali para a geografia humana deste imenso território, sempre batendo a tecla na natureza desastrosa de nossas instituições governamentais.

Um texto que o leitor não consegue ler sem relaxar a boca das orelhas. Não se trata de um livro analítico, embora o autor não se furte de apresentar dados estatísticos. Não se pode caracterizar como um ensaio para fins acadêmicos. Um trabalho chocante pelo que tem de impertinente, provocativo, tresloucado que, não fosse o nosso deplorável estado de podridão moral, seria uma recorrente referência de citações.

Carlos de Vasconcelos consegue desagradar a todos. Se enquadra no caráter politicamente incorreto de nossos críticos de cem anos atrás. Sua escritura destrambelhada foi feita para criticar nossa miscigenação, nosso caráter atrapalhado, nossa anomia e desconfiança com tudo o que não tem o aval da elite política, como também para fazer rir pela indetível referência aos nossos vícios institucionais.