Os Brasis que me atravessam

“Os Brasis que me atravessam – um grito por liberdade” apresenta um relato em primeira pessoa daquilo que tenho vivido e visto neste país, desde o meu nascimento numa pequena cidade no Cariri cearense, marcada pelo coronelismo, filha de uma mãe branca, cuja família é em parte de origem portuguesa, e um pai de descendência afro-ameríndia. Os recortes de gênero, etnia e classe são o chão de onde saltam as muitas histórias que ilustram a grande trama que nos une a todos na mesma teia. Aqui estão pinceladas vivências minhas e dos povos mais diversos que fazem esta não nação, como denomino este lugar onde habitamos, sem direito a um diálogo fraterno e honesto que amalgame nossa diversidade.
Costurando estas histórias, desnudo minha alma na jornada que me levou a escolher caminhar, enquanto jornalista, ao lado dos povos pretos, índios, marginalizados, excluídos deste país. A escrita deste meu relato-grito pela liberdade vem de uma gestação longa. Chego aos 50 anos em 2023. Portanto, ela (a escrita) está marcada por um olhar mais maduro, entretanto, não menos rebelde e esperançoso que o olhar da jovem menina que se lançou na estrada em busca de semear Justiça.
Da Raiz ao Florescer, a enredo desenrola-se por partes que vão somando-se e trazendo uma diversidade maior de sujeitos a cada momento. Parto do Eu para chegar a Nós. Quem somos Nós? Quais Brasis me atravessam enquanto vou me encontrando com as gentes deste lugar. O Brasil da escravidão, do genocídio dos povos nativos, do racismo, da violência perene contra as mulheres, das mentiras repetidas cotidianamente nos espaços de poder, dos povos periféricos empobrecidos ciclicamente, do extermínio das nossas matas e biodiversidade – uma soma de muitas dores a espera de serem sanadas.
Felizmente e como de fato o é, nem só a dor nos marca a pele. Há lugar para coragem, insurgência, resistência, ousadia. Há lugar especialmente para o sonho e a utopia, música e poesia, gentilezas e afetos, sorrisos, abraços largos e deliciosos. A humanidade em nós floresce daí e caminha de braços dados com a arte e a natureza mais profunda. No decorrer da escrita, eu nunca estive só. Estive de mãos dadas com muitas pessoas, em diálogo amoroso com suas ideias, suas histórias, suas lutas. Reverencio e agradeço cada uma delas, por juntarem-se a mim em sonho e caminhada.
Assim é que, fruto de um mergulho autobiográfico, o livro mira a história do país para apresentar algumas de suas contradições, em sintonia com as vozes diversas de grupos e sujeitos invisibilizados, relegados ao silêncio ou ao desprezo, que resistem àquilo que ameaça sua liberdade e propõem caminhos mais generosos de inclusão dos mundos. Nesse sentido, volta-se aos leitores e leitoras mais sensíveis e questionadores acerca de “Quem Somos”.