DO SERINGAL AO TRIBUNAL

Nascer no coração da Amazônia é como emergir do próprio ventre da terra, uma experiência que molda a alma e define os caminhos. Afonso Braña Muniz veio ao mundo assim, em um amanhecer sereno de 6 de agosto de 1964, às 3 horas da manhã. Seu primeiro sopro de vida foi embalado pelo ritmo do Rio Purus, no seringal Flor do Ouro, em Pauini, Amazonas. O destino parecia tecer uma tapeçaria única para ele, filho do seringueiro José Muniz de Souza e da doméstica Vanda Braña Muniz, em uma família grande, onde o amor e a resiliência eram as colunas que sustentavam o lar.
Os seringais do Amazonas guardam histórias de coragem e sacrifício. O avô paterno de Afonso, oriundo do sertão do Ceará, atendeu ao chamado da floresta durante a Segunda Guerra Mundial, em busca do látex que alimentava as indústrias bélicas. Esse movimento trouxe esperança e nova vida a muitos, e foi assim que ele encontrou seu lugar nas profundezas amazônicas. Por outro lado, o avô materno, nascido nas brenhas do Alto Purus em Sena Madureira, carregava o espírito indomável daqueles que desbravaram terras selvagens com mãos calejadas e corações fortes.
A vida dos pais de Afonso seguiu o curso natural do rio, sempre em sintonia com a floresta. José Muniz nasceu no seringal Mapiá, enquanto Vanda Braña veio ao mundo no seringal Ano Bom. O casal conhecia a intimidade da mata, os segredos que o vento sussurra entre as árvores, as histórias de luta e sobrevivência que se entrelaçavam com as lendas contadas ao redor das fogueiras. E foi nesse ambiente de natureza bruta e beleza selvagem que Afonso passou os primeiros sete anos de sua vida, aprendendo a decifrar os murmúrios da selva e a entender o valor da simplicidade e da resistência.