HISTÓRIA DO LAZER E DESENVOLVIMENTO REGIONAL: CONTRIBUIÇÕES DO GRUPO DE PESQUISA SOBRE A HISTÓRIA DO LAZER (HISLA/UFMG)

O Grupo de Pesquisa Sobre a História do Lazer (HISLA), fundado na Universidade Federal de Minas Gerais, vem se dedicando, na última década, à elaboração e sistematização de uma análise sobre as relações que se estabelecem entre a emergência histórica dos mercados culturais e o desenvolvimento regional. É um lugar comum na historiografia dedicada à história do lazer e do esporte a utilização do chamado “argumento da modernidade” para explicar as causalidades responsáveis pelo desenvolvimento das manifestações esportivas e de lazer no país. Precisamos destacar que “a modernidade é um fenômeno demasiadamente complexo para ser utilizado como uma chave mestra para explicar todo o desenvolvimento histórico do fenômeno esportivo em âmbito nacional” (Pessoa, 2024, p. 14). Fato que foi debatido por Dias (2012) ao apresentar como a historiografia do lazer e do esporte no Brasil adotou a industrialização e a urbanização como os principais argumentos para justificar o desenvolvimento dos esportes e do mercado cultural no país, com foco principalmente no Sul e Sudeste brasileiro.
Este livro é um esforço coletivo que buscou, dentre outras coisas, elaborar uma análise mais geral de como o desenvolvimento do lazer pode estar ligado a outras variáveis que não necessariamente aquelas relacionadas aos grandes centros urbanos, que são, pelo menos hipoteticamente, expoentes da modernidade. Portanto, o que sustenta o fio condutor desta obra é a relação que se estabelece entre a história do lazer e o desenvolvimento regional. Nessa perspectiva, uma gama diversificada de fatores é mobilizada para tentar criar representações sobre o que foi a história do lazer em diversas regiões do país. Além disso, a atenção dada aos marcadores sociais, que estão diretamente relacionados ao desenvolvimento dessas indústrias da cultura, é um dos pontos altos deste livro, mais especificamente, o debate relacionado a raça e etnia, gênero, classe social e religião.
Seja na discussão sobre o samba e o candomblé na imprensa nacional do século XIX, ou elaborando uma análise acerca da emergência histórica dos mercados culturais de Feira de Santana, Goiás, Juiz de Fora, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, este livro buscará convidar os leitores a problematizar os argumentos hegemonicamente utilizados para explicar como, no Brasil, situado na periferia da modernidade e do capitalismo, diversos mercados culturais se desenvolveram, ou não, pari passu aos indicadores de desenvolvimento regional, cada um dentro do seu próprio contexto.
Não buscamos com isso alcançar uma espécie de explicação universal que sirva para embasar, em qualquer contexto, o desenvolvimento do lazer atrelado ao desenvolvimento regional. De outro modo, nosso principal objetivo foi tensionar uma perspectiva hegemônica na historiografia dedicada ao tema. Além disso, este livro é um convite para compreendermos que qualquer lugar, em qualquer região do país, possui uma história e pode contribuir para compreendermos melhor as variáveis que estão relacionadas ao desenvolvimento do lazer e do esporte no país. Boa leitura.