Antologia do amor

Os dias cinza têm sua beleza. Ao menos se não são bons de viver, são bons em fazer desabrochar pensamentos, sentimentos, a lírica… E dedicar a eles este livro é um ato de agradecimento, mas também de resiliência, pois é na ruminação sobre o vivido, sobre a própria experiência, que o autor executa seu trabalho de se desnudar através da escrita, fazendo emergir textos que são ao mesmo tempo relatos e ideias nascidas no seu âmago que se quer à mostra.
Se viver é um rasgar-se e remendar-se, como escreveu Guimarães Rosa, dar uma antologia do amor ao mundo é um subjetivar-se no sentido mais pleno da palavra, visto que o eu (seja o narrador, seja o eu lírico) se confunde tão pessoalmente com quem escreve que a literatura ora apresentada parece fragmentos de um mesmo retrato. Quem lê se depara com um intenso e sentimental portfólio que, a meu ver, funciona como uma leitura de si que pode servir como releitura do outro, ou como uma leitura para além. O reconhecimento dos afetos é um modo de se aproximar de coisas e situações que também são universais, ainda que apresentadas sob o ponto de vista de alguém que enuncia aquilo que vivenciou, mas que faz um chamado à conexão.
Igor Pires, Rupi Kaur, Victor Fernandes são escritores que parecem ter influenciado o estilo – seja pela brevidade, pela carga emotiva, pelas frases curtas nos textos longos. E é interessante ressaltar isso porque aquilo que jorra dos textos pode ser apreendido com a lente de uma contemplação às vezes dolorida, outras vezes reflexiva, ainda podendo ser irônica, mas jamais deixa de ser sensível. É isto: este livro é de uma escrita extremamente sensível.
E aquilo que foi sentido é dado para que outros também possam sentir.
Trata-se mais de um sentir vivendo. Ou de um viver apesar de. Talvez até se constitua como uma forma de abrir o peito e a mente para mostrar aquilo que atravessa, perpassa, fere, mas cura. Esta antologia seria, então, um remédio, um curativo, um subterfúgio diante das circunstâncias adversas, mas das quais se pode escapar, e sobre as quais sempre se poderá escrever.
Que os ventos benfazejos soprem as palavras deste livro aos corações que aqui podem ser lidos. E que a palavra seja, como Clarice Lispector disse, aquilo que pode salvar o coração