Filosofia de Pés Sujos

Sobre Filosofia de Pés Sujos e Outras Sujeiras

Dísticos, em versificação, é uma “estrofe mínima, composta de dois versos; parelha, e por extensão, “máxima expressa em dois versos.”. E foi essa a forma poética que escolhi para, ao contrário dos meus poemas tradicionais muito longos, exprimir pensamentos poéticos, filosóficos e políticos.

Desde 2010 venho escrevendo e publicando esporadicamente em redes sociais esses pensamentos, e agora, dez anos depois, decido por compilar, separar os melhores e dividi-los em categorias, juntando a eles frases soltas sob a forma de aforismos e silogismos.
Acredito na arte unicamente como expressão individual, e na poesia como forma de filosofia. E nisso baseado, mesmo sem ter cursado uma faculdade, apenas com Ensino Fundamental, e tendo como mote a frase “Universidade da Vida, onde o diploma é a certidão de óbito”, advogo-me o direito a ser um filósofo, mesmo que de pés sujos, já que reconheço em mim a herança de avós caipiras, analfabetos, mas com uma sensibilidade e sabedoria que jamais encontrei, mesmo nos livros dos grandes filósofos e poetas letrados que li. Tenho orgulho de ter herdado a simplicidade e a tenacidade deles.

Minha expressão não tem limites e não admite modismos nem freios, e não suporta nenhum regime político e de governo que vise modificar o ser humano, como o nazismo e o comunismo. Podemos e devemos melhorar a nós mesmos como seres humanos, mas não sermos capachos de interesses porcos de dogmas e ideologias que sufocam o indivíduo.
No Brasil aparece um filosofo “genial” todos os dias. A mídia constrói filósofos como se fossem astros do funk ou bonecos de playmobil. O problema é que a imensa maioria deles não é de filósofos – e nem falo em formação de nível superior, pois não é a formação acadêmica que determina -, já que se detém a falar como sociólogos movidos por ideologias políticas. O verdadeiro filósofo não fala do coletivo em relação ao individual, o filósofo real deve tratar do individuo em relação ao um coletivo muito maior que problemas de favelas, cotas, polícia e bandido. Deve o filósofo se preocupar com as vicissitudes da mente e da alma do ser humano, gerador de toda a saúde e enfermidade do mundo. Filósofos a serviço de ideologias políticas de qualquer natureza, não apenas ofendem o sentido da Filosofia, como perdem qualquer respeito às suas ideias. A Filosofia não requer canudo, mas requer isenção política para que seu pensamento possa ser livre. Sem pensamento livre não existe Filosofia, apenas Sociologia barata, corrompida e amorfa.

Adoro andar descalço e, portanto tenho invariavelmente meus pés sujos, e de uma humilhação nasceu a ideia desta coletânea que, mais que um apanhado de poemas e frases, é um resumo do meu pensamento mais profundo. Sou, sim, um filósofo de pés sujos, sem eira nem beira, “sem dinheiro no banco e vindo do interior”, como disse o poeta maior da musica brasileira, mas sou mais que isso, e antes de qualquer coisa, um poeta, abandonado por família e execrado por seus pares, especialmente aqueles que em sua tolice idolatram deuses e santos, políticos e ditadores.

Muitos estranharão e torcerão o nariz, afirmando que eu não tenho o direito de me auto-intitular filósofo. Me acusarão de arrogante, e me cobrarão estudos e citações dos grandes mestres. “Apenas com a 8ª série e acha que pode se considerar filósofo?”, é o que dirão. A esses dou meu escarro, como no poema de Augusto, exibo meus pés sujos e meu “amor pela sabedoria, experimentado apenas pelo ser humano consciente de sua própria ignorância”, segundo a mais clássica das definições. E sigo como Epiteto, filósofo grego estóico que viveu em Roma, como escravo a serviço de Epafrodito, o cruel secretário de Nero que, segundo a tradição, uma vez lhe quebrou uma perna. Quebrem minhas pernas, mas não calem minha boca.