O Casamento

Advogado judeu e homossexual acorda de madrugada importunado por vozes que parecem recitar rezas de que ele não se lembrava mais. O resto da noite, ele passa mergulhado em pensamentos a respeito das vozes; seria algum chamado de antigas tradições ou apenas um grito aleatório do passado, de que nem valeria a pena lembrar. É claro que tudo isso se remete à situação atual. Marcos é o filho que cuida da mãe viúva, que está morrendo. Seu irmão mais novo, Gerson, morreu há muitos anos num acidente, e a mãe nunca se recuperou da tragédia. Nos últimos tempos ela se recusa a sair de casa como se a transformasse no próprio caixão, lutando, segundo o filho, com a culpa de estar viva enquanto o filho mais novo já estava enterrado. Marcos sabe que a única alegria que podia dar à mãe era um casamento, de que ele se achava incapaz. Levado pelos remorsos ele busca um rabino que, conhecedor de sua situação, se recusa a lhe apresentar uma mulher com quem faria um casamento “de fachada”. Ele busca uma antiga namorada com quem tivera um caso há muitos anos atrás, e que a chocara ao lhe fazer a revelação de sua condição sexual. Mulher separada e desiludida, ela se recusa no entanto a ter qualquer envolvimento num caso que, segundo ela, não passava de uma farsa ou, mais além, uma loucura. Envolvido pelas vozes que continuavam a se materializar em suas madrugadas insones, Marcos não sabe, na verdade, se ele quer apenas montar uma peça para enganar a mãe, lhe fornecendo assim uma alegria espúria, ou se trata de uma proposta mais profunda ligada a ligações ancestrais e uma memória que o leva a raízes mais velhas do que o seu próprio nascimento. De certa forma, ele consegue convencer a antiga namorada que está de fato tentando refazer uma ligação verdadeira com ela, nascendo assim uma relação entre os dois fortemente afetiva. Aconselhado por um amigo, ele procura um antigo padre expulso da religião católica, que tem conhecimentos sólidos sobre a religião judaica e se propõe a se fazer passar por rabino e casar os dois na religião. Na verdade, a religião judaica não exige um sacerdote para oficializar o casamento, e assim ele seria legítimo de qualquer maneira. Só que Marcos tem de lidar com as idiossincrasias do padre, um sacerdote alcoólatra e amargurado, conselheiro de uma pequena comunidade de marginais, bandidos dos mais perigosos, entre os quais ele conhece um casal com quem experimenta grande afinidade. A situação fica muito clara para ele, quando é chamado pelo gerente de um restaurante no subúrbio para pagar a conta de um bando, e ao chegar lá se depara com o padre semiembriagado rodeado de um bando de bandidos, formando quadro muito semelhante à última ceia de Da Vinci. O rapaz (Stalin) está metido num plano muito perigoso, que pode lhe custar a vida, e o padre implora a Marcos que o convença a desistir de tudo e se entregar à polícia, o que está longe dos planos dele diante da quantidade de dinheiro em que pode colocar a mão. Marcos descobre que se não conseguir convencê-lo, ele próprio ficará envolvido numa situação da qual não conseguirá sair vivo.