Pindorama de Sangue

“Os homens, se quisessem morrer de velhice, deveriam nascer velhos.”

Brasil, início do século XIX. Os colonizadores extraem o que resta do sangue dourado que escoa pelos profundos veios de rocha. Na superfície, etnias batalham em nome da territorialidade soberana. O homem confunde-se com as matas e almeja, a todo custo, elevar-se acima das copas mais altas. Mosquetes estouram; flechas zumbem pelos ares e picam os pescoços dos mais desavisados.
Um jovem mestiço irrompe da tempestade e percorre caminhos tortuosos em busca de seu espaço entre as densas camadas sociais da época. Após ser recrutado por um grupo de caçadores de homens, ingressa nas rugas do continente em posse de sua carabina e defronta-se com o carrasco da humanidade — casca sem alma que vaga pelo universo em nome da extinção incondicionada. A moral e a civilização, como setas direcionais, lhe servem como disfarce. Mas a índole dissimulada não esconde sua bocarra cheia de dentes. O jovem revolve-se no turbilhão de suas dúvidas essenciais, em obstinado combate com adversários que buscam a sobrevivência irrestrita em terras sedentas por sangue, até que, por fim, evoca-se como senhor de seu próprio destino; ou será que não?
Uma ficção histórica que transcende os limites fáticos de uma época em que a permanência se amolda como uma palavra sem propósito; em que facões servem para desbravar os matagais e, ao mesmo tempo, cortar cabeças humanas. Não existem mocinhos ou vilões — a sobrevivência a qualquer custo é a única medida a ser empregada por aqueles que desabrocharam em uma plantação de cadáveres ambulantes. Não há escapatória.

“Terra de oportunidades daninhas; pindorama de corpos humanos empalados; sepulcro de palmeiras de carne, osso e sangue. Brasil — vermelho como o caldo viscoso que flui por artérias e xilemas.”