VOZES QUE NARRAM E PALAVRAS QUE CURAM

Este livro é resultado da
sensibilidade de um jovem
historiador em perceber os papeis sociais e funções de
cuidado e cura nas sociedades do interior do Nordeste com
as quais conviveu. De dedicação de sua Dissertação de
Mestrado ao tema das rezadeiras e rezadores pode, a meu
ver, se r catalogada a título de um esforço de retribuição e
gratidão num mundo de fluidez e desarraigamento.
O livro que se dará a ler, envereda pelas práticas de cuidar, curar, acalentar, por meio da imposição das mãos,
da utilização de unguentos, da veiculação de rezas, toadas e
falas dotadas de um ritual e um ritmo de transmissão coeva
e híbrida. Permeia cartografias imaginárias, memórias
afetivas, crenças e ritos de sociabilidade de um povo crente
de tradições religiosas sertanejas e que resistem ao tempo,
sem, contudo, deixarem de se transformar, redefinin do
identidades. Tratar se á aqui das rezas, das curas, das
promessas, das festas e os costumes que constroem
singularidades irrepetíveis. O homem sertanejo convive
com hibridismos entre a cultura religiosa do povo posta
como antiga e os aportes transforma dores do universo do
moderno. A proposta inicial é a de problematizar as
práticas de curas promulgadas por rezadeiras e rezadores da
região Vale do Sabugi do sertão paraibano entre o final do
Século XX e início do século XXI, investigando suas
práticas a p artir do diálogo entre a História cultural e
História Social para compreender como esses rituais de
curas e de rezas do sertão conseguem manter ritos de
sociabilidade e de permanências diante do seu convívio
com a modernidade. Para tanto, Franciel adotou a estratégia
de escuta das narrativas orais. das rezadeiras, rezadores,
enfermos e a comunidade que narra sobre essa relação da
reza com seu espaço e as naturezas do semiárido. O autor
ainda recorre às fontes fotográficas que expõem as
atuações e os espaços de rezas promulgados por esses
homens e mulheres sertanejos, mobilizando metodologia
adequada a essa natureza de fonte. O objetivo é por em contato, aos olhos do leitor, diferentes naturezas de
vestígios, para construir uma história êmica e atenta a
orali dade.
Resultante dos esforços de um habilidoso
historiador, com quem tive a grata felicidade de conviver
durante seu mestrado, este livro é um presente aos leitores
e uma aula de historiografia sensível.

José Otávio Aguiar
Primavera de 2023