ESPERANÇA ENLUTADA

O ser humano busca a todo custo enganar-se a si mesmo, cultuando o efêmero, temendo que o eterno nunca chegue ou seja apenas uma ilusão, uma projeção ou uma defesa psíquica; pior, não consegue aliviar o sentimento de angústia que lhe causa a sensação do vazio existencial, do que está oculto atrás da última curva da vida, no apagar das luzes no palco. Ele teme a morte e se angustia com a possibilidade do nada. Uma das saídas para se amenizar o medo da morte reside, pois, na esperança intra-histórica que se encarna na concretude do humano e nas suas relações com o mundo e com seu semelhante e a outra, na esperança extra-histórica que se ampara na fé do homem religioso e no seu reconhecimento (empatia) de uma transcendência, que embora o ateu não aceite, se apresenta, também para ele, como sendo uma possibilidade. Tanto uma quanto a outra não devem se transformar num refúgio seguro e inacessível para o homem contemporâneo, como se cada um fosse uma ilha e, sim, constituir uma armadura, uma proteção que ao mesmo tempo garanta a sua estabilidade emocional e o impulsione a lutar por uma sociedade mais solidária e justa, pois, “saindo de si” e lançando-se ao encontro do outro, o ser humano poderá atingir a maturidade de uma “esperança enlutada” que, embora, sabendo do risco que corre frente a possibilidade de se frustrar, se rebela contra ela e confiante segue o caminho do amor, atingindo o grau suficiente de liberdade e de responsabilidade. É, pois, esse amor encarnado, causa da práxis humana, e não mera especulação filosófica de caráter romântico, que produzirá no ser humano a consciência de uma “nova ética” e irá proporcionar o sentido e significado que ele irá, doravante, acrescentar à vida e à morte, encarando seu fim, seja ele qual for com maior serenidade, possuído da certeza que cumpriu sua missão: amou a si e aos demais em profunda consonância com suas convicções.