A urgência do sucesso do vazio

Pode ser você, pode ser alguém bem próximo a você, mas, neste momento, primeira metade do século XXI, muita gente tem sofrido com a questão da “falta de sentido na vida”. Junto à epidemia de solidão que vem se alastrando em meio a populações inteiras, a sensação de falta de sentido na vida tem sido um doloroso problema a tomar conta das almas e dos corações de um número crescente de pessoas no mundo. Consultórios de psicologia recebem parte dessas pessoas todos os dias e dão provas disso. Hospitais também, às vezes, após atos de desespero frente à dor de existências marcadas por fortes desorientações. Ter um sentido na vida, um propósito a inspirar nossas existências, ações e relações sempre foi uma preocupação humana, e muita coisa já foi dita e escrita sobre isso. Mas, posso dizer como psicólogo e profissional da saúde mental, pouquíssima coisa foi dita e escrita com a sinceridade e a profundidade com que a autora desse livro, uma psicóloga atenta aos potenciais da vida, abordou a questão. Iara uniu sua experiência profissional, forjada na materialidade do trabalho cotidiano, à sua forma ção acadêmica como psicóloga e à sua condição de mulher, de mãe e de cidadã brasileira consciente das mais importantes questões sociopolíticas do seu país. E esse mosaico de questões objetivas e subjetivas, materiais e imateriais faz toda a diferença quando o tema é a vida das pessoas, as relações que as pessoas travam entre si e o sentido que podemos extrair dessas dimensões humanas. Foi por causa desse background pessoal e profissional
que a autora, com sensibilidade, olhar crítico e senso de praticidade, escreveu este livro, ao mesmo tempo, denso, leve e fluido, sobre questões fundamentais para as vidas humanas da atualidade. Questões como Vazio Existencial, Pressões Sociais, Diferença entre Atividade Constante e Experiência Humana, Busca por Significado e Propósito de Vida, Mal‑estar Psicológico Relacionado ao Contexto Histórico, Pressões Relacionadas à Desigualdade e Discriminação, Expectativas Sociais e Pressão para o Sucesso, Tecnologia e Conectividade, Cultura do Desempenho e Competitividade no Trabalho. Todas essas questões são fatores subjacentes às experiências humanas em um século marcado pelo desenvolvimento de relações sociais cada vez mais aceleradas, coisificadas, burocratizadas e afetadas por lógicas mercantis onipresentes e onipotentes. As reflexões e sugestões trazidas por Iara aos leitores interessados em saúde mental e qualidade de vida, em tempos de crescentes desafios socioculturais, educacionais, relacionais e ambientais à humanidade, é de uma tocante e encorajadora inspiração em cada página do livro. Faz bem à alma ler um livro sobre a relação entre eventuais vazios existenciais, pressões sociais contem‑
porâneas e suas implicações na saúde emocional. E por que faz bem? Porque as palavras da autora, neste livro, renovam as nossas esperanças ao propor
uma jornada de autoconhecimento e de autorreflexão para encontrarmos, ou reencontrarmos, o propósito e autenticidade que desejamos ter em nossos cotidianos ordinários e extraordinários. Faz bem à alma humana saber que é possível reencontrar-se consigo própria, cultivando um sentido pessoal de propósito e de autenticidade em meio às pressões e desafios da vida contemporânea, uma vida cada vez mais impessoal e impotente diante de poderes e ideologias macropolíticas focadas apenas em seus próprios interesses. Vivemos tempos atravessados por maravilhosas conquistas humanas, nas ciências e nas relações interpessoais, como, por exemplo, descoberta de curas para doenças, maior igualdade nas relações de gênero e maior consciência a respeito dos direitos trabalhistas. Porém, ao mesmo tempo, também vivemos uma era de sérias ameaças à saúde mental das pessoas e das sociedades, tais como, por exemplo, proliferação de fake news, dependência de telas, financeirização e medicamentalização da vida, fundamentalismos religiosos, econômicos e
ameaças à democracia. Tempestades capazes de arrastar pessoas sem raízes e acabar com a paz de qualquer um. O que seriam “pessoas sem raízes”? Ao escrever este prefácio para um livro dedicado ao cultivo e florescimento das pessoas, entendo “pessoas sem raízes” como aquelas que são vulneráveis às ilusões da vida, às más intenções de outros ou às influências sociopolíticas e culturais que promovem ideologias autodestrutivas e prejudiciais a si mesmas e à sociedade. Essas pessoas estão vulneráveis porque lhes faltam conexões com fatores que protejam e promovam sua saúde mental, falta-lhes uma ligação cultural com valores e propósitos inspiradores, carecem de uma identidade interior que as guiem no mundo exterior e, muitas vezes, vivem em contextos sociais desfavoráveis, onde a desigualdade, a falta de oportunidades e a marginalização impedem o desenvolvimento de um senso de pertencimento e
segurança. E Iara, a inspiradora psicóloga autora deste livro, sabe disso e sabe mais. Consciente da sua responsabilidade como mãe, mulher, cidadã e profissional da saúde mental, colocou-se a serviço da conscientização e da psicoeducação de indivíduos e de instituições sociais em luta por um mundo melhor para todas as pessoas, mundos internos e mundos externos, buscando fomentar uma sociedade onde cada indivíduo possa desenvolver raízes profundas. Por meio de seus conhecimentos e reflexões, Iara promove a nossa aproximação com questões inspiradoras e favorece o fortalecimento da nossa autoconexão, jogando luz sobre questionamentos e caminhos que podem nos levar a transitar pelo mundo exterior com maior segurança e propósito.
Este livro foi criado para nos ajudar a olhar para dentro de nós mesmos quando os desafios externos ameaçarem a nossa paz e, também, para nos orientar a olhar para fora com sentidos e propósitos que honrem a vida e a melhorem, tanto para nós quanto para todos ao nosso redor. É um livro para nos inspirar. Inspirar com a sensibilidade, a criatividade, a força de caráter e a pureza de intenções da autora-psicóloga que, com seu profundo conhecimento e intensa dedicação, nos convida a crescer e a florescer em todas as áreas de nossas vidas. Pelas nossas vidas e por todas as vidas.

Leonardo Abrahão
Psicólogo, palestrante e escritor criador da
Campanha Janeiro Branco