Cria de Favela

Fotografar a quebrada em palavras, em linhas que formam versos. Olhar o cotidiano humilde e sofrido e converter em poesia, porém sem romantizar, sem criar fábulas. Visão nua, crua, sincera, cirúrgica e ao mesmo tempo urgente e necessária. Esse é o caminho percorrido por Guilherme de Andrade, companheiro que a literatura marginal me deu e que a favela criou.

Em Cria da Favela, seu segundo livro, e o qual tive a honra de fazer parte, representando aqui a editora Dando a Letra, vemos o poeta aguçar seus sentimentos em relação àquele lugar onde os sentimentos parecem ter evaporado. Digo, o sistema, o estado, a elite, o asfalto, a mídia, as grandes livrarias, sempre negligenciaram a periferia e suas crias, parecem que não sentem nada por nós, a não ser desprezo. Parece não, é real. Tão visceral quanto os versos de Guilherme. Parafraseando o slogan da 4P, dos manos Xis e KL Jay: “Pare de se iludir, o sistema não gosta de você!”.

Mas não é só de descaso que Cria da Favela é composto. Agora uso como referência o lado Leste, busco no Consciência Humana a frase: “Periferia Tem Um Lado Bom” e esse lado de ensinamentos e aprendizados, de resenha, de festa e de amor à quebrada, Guilherme de Andrade também fotógrafa.

Complexo? Sim! A favela é complexa local que amamos odiar e odiamos amar. Que nenhum playboy fale mau da quebra, pois só quem é de lá sabe o que acontece. Por isso, o que você tem em mãos é esse registro fotográfico em palavras, imagem que não se vê. Se sente!