A Gruta Hemática e o Movimento Poético Sublevarista — Décima parte

Às vezes, faz-se necessário trazer na pupila a imagem presa do belo dia luminoso visto lá atrás. Visitar antigos fantasmas nos faz mais fortes quando, em vez de nos assustarmos com eles, oferecemo-nos para uma dança, um abraço ou um perdão. É por isso que a poesia de Alan Alcântara retoma aqui o seu fantasma coberto por um pano incinerado em forma de um livro espiritualmente indócil com seus acréscimos.
A faísca que era preciso para compreender melhor a espécie de poesia que seguiria o autor surge aqui. Este livro nada mais é do que um fértil vale banhado por rios e regatos e com os pomares que o autor sempre precisou para colher um fresco fruto anteriormente.
O “Fogo dócil” sempre fez parte da “Gruta hemática” ainda que não estivesse nela inserido, então, por isso, é trazido de volta, tal qual um palco cênico repleto de chamas que se apagarão nos olhos cansados de quem o lê e quem o vê como um hóspede que vem visitar o interno burgo de quem submerge o seu valioso tempo tentando compreender as numerosas metáforas postas nele.
O fogo, como metáfora intensa, simboliza a dualidade da criação e destruição na poesia. Enquanto a criação está na paixão por manipular as palavras que procuram o eu-lírico, consumindo-as para aplacar sua inquietude, a destruição é representada pela chama voraz que, insatisfeita, consome o seu próprio criador. Assim, de verso em verso, explora-se a ideia de que a esperança brota do vínculo entre criador e criação.
Embora sempre frustrado pela impossibilidade de expressar plenamente o que sente, ainda que seja um falso sentir no qual se postula que o poeta é um trickster, o eu-lírico submerge no vasto universo poético em busca de capturar suas emoções através das palavras que escolhe.