Guerras Secretas: Entre Mundos

“Guerras Secretas: Entre Mundos” é a segunda parte da série de livros “Guerras Secretas”, iniciada pelo livro “Guerras Secretas: Poema da Noite”, onde o Eu lírico narra a introdução ao cenário literário, onde este era esmagado por guerras, internas e externas. Deste infortúnio surgiu uma linguagem direta e pessoal, além de introspectiva e melancólica. Mas também esta linguagem foi intencionalmente construída, com o objetivo de romper com a poesia padrão que vemos hoje em dia; uma poesia resumida a declarações românticas e subjetividades ultrapassadas. A sociedade hoje se organiza em prol de um pensamento de uma “resiliência
coaching” que nega os sentimentos negativos, condenando-os à definição de pessimismo. É raro encontrar na contemporaneidade
uma arte que coloque o apreciador desta em uma condição de admissão para si próprio de sua própria humanidade, melancolias e
tristezas, sobretudo porque a arte é hoje e mais do que nunca, um subproduto do capital. Assim sendo, esta está muito subordinada a
ele e a seus interesses, e pensemos: seria de interesse do capital uma arte que ponha o ser humano para refletir e admitir para si
próprio suas dores? Sabemos que não, dado que o modo de organização social do capitalismo exige seres humanos de ferro,
intransponíveis à tristeza e à dor. A resiliência é, mais do que nunca, o método de modelagem de comportamento e reciclagem
de corpos (e mentes). Com isso, imaginei e compus uma escrita que colocasse o leitor na situação de reconhecimento de si mesmo,
como uma observação de espelho. O ar noturno surgiu como uma oposição à ideia do “dia”, o turno da jornada humana onde ela é
mais agredida pelas guerras secretas. Ora, se o dia é o período onde estes conflitos ocorrem, resta a noite como sendo o período
de reconhecimento e assimilação das dores que estes conflitos provocam. Porém, neste livro, apesar da ideia das “guerras
secretas” permanecerem, o objetivo da escrita é alterado: o ar noturno dá lugar à sensação de não-pertencimento, algo também
comum a todos os seres humanos contemporâneos, em algum momento de suas vidas. O mundo contemporâneo é uma completa
incerteza sobre o que ser, como ser, e a que/quem pertencer: somos bombardeados por necessidades e obrigações de
assumirmos rótulos, no emprego, na vida acadêmica, na vida pessoal. Afinal, a que contexto pertencemos? A qual mundo
pertencemos? Do trabalho? Da faculdade? Da família? Da religião? Enfim, o humano contemporâneo se resume à sensação de estar,
quase literalmente, entre mundos.