A Gruta Hemática e o Movimento Poético Sublevarista — Sétima parte

Quando o poeta Alan escreveu este livro, buscou arquitetar galerias de formas tão vivas quanto a presença do egoísmo humano; de contornos tão vivos quanto as passagens das estações, derramando seus aguaceiros e abraçando nossa atenção por mal ou bem, de feitios tão vivos quanto a força do vento que penteia os cabelos da chuva espalhando-os sobre o horizonte indiferente à urgência e à gravidade das complexidades mundanas. Essas galerias, embora não existam no plano real, são navios afundados no peito de um eu lírico que tenta a todo tempo se desalienar daquele que o escreve por direito, por dever, por ousadia, por medo, por falta de afinidade, por autoanulação, por instinto, por avaria, por inquietação, por rancor, por cansaço. Assim, tais galerias, afundadas neste peito, sofrem um choque ao enxergarem uma carga de sentimento tão pesada, tão intransponível, tão pouco artificial, que a única vontade que resta do eu lírico é a de sentir aquela ausência de qualquer sentir que havia antes da sua autoconstrução.
Este livro é repartido em algumas segregações temáticas: O instante é uma embarcação sem proa, sem casco, sem popa e sem bordo; O sabor suntuoso e enjoativo da culpa; No frescor cada sono é uma galeria; Arquiteturas fora do alcance de nossas velhas mãos. Essa segregação mais o acopla do que o aparta. O seu fim é puramente didático e estético já que suas zonas de acesso não têm fronteiras exatas, todo poema nele contido é como se fosse apenas um, são eles sangue do mesmo sangue e carne da mesma carne, só não possuem o mesmo destino.