Primavera

Este livro poderia ser descrito como um antologia poética. Mas acho que eu não concordaria. As páginas que aqui se encontram foram apenas um meio encontrado para sobreviver a insônia, aos surtos de ansiedade e a depressão. Não saberia responder a qual gênero tal antologia corresponde, ou ao método utilizado, muito menos o ideal na qual ela, a cada nova estrofe, constrói. Uma grande poetisa, Vovó Inês, cujas poesias são ensolaradas e felizes, me confidenciou, certa noite, que todas as suas poesias haviam sido escritas em meio ao sofrimento – ela deixava seus versos alegres para que as pessoas que as lessem sentissem o contrário do que ela sentira ao escrevê-los. “Quantos segredos devem existir por trás de cada verso de cada poeta e poetisa?”, refleti. Por outro lado, os meus versos não foram feitos para alegrar o dia de alguém – eu não os fiz numa manhã ensolarada, mas em madrugadas frias, cujo o latido do vira-lata na rua era a minha solitária companhia. O meu único objetivo é que meus poemas possam chegar aos olhos de alguém que, estando na mesma situação que eu, se sinta menos sozinho em meio a dor e que, assim, os meus versos possam, tal como fizeram comigo, carregar suas lágrimas e diminuir o tamanho da sua agonia. Não irei vender aqui um mundo inexistente de sorrisos, mas um mundo que subsiste na dor, onde, se cada um, tornando-se multiplicidade, ajudar na cruz do outro, talvez então possamos começar a imaginar uma realidade cujos oceanos não sejam de sangue.