Lirismos de Infância e Juventude

O presente livro contém todos os fragmentos da colcha de retalhos que foi minha obra poética até então. Desde os amores platônicos, alvoroçados e viscerais do fim da infância, até as reflexões intimistas mais recentes, a obra transpassa por hiatos imensos desde a minha primeira escrita em “Confissão”, datada de 2015, até “Obituário”, de setembro de 2023. Em início, no entanto, a última das hipóteses que considerava era a de tornar públicas as palavras exprimidas em desassossego noturno antes do sono e, talvez, por isso, as primeiras poesias estejam tão repletas de drama e carentes de rigor linguístico ou mesmo artístico, o que (espero) passei a prezar nas escritas posteriores. Esses grandes hiatos, então, repercutem de insatisfações pessoais com minha produção escrita, críticas ao papel desempenhado pelos poetas em sociedade tão adoentada, bloqueios emocionais e criativos e, enfim, qualquer das perturbações que uma mente jovem com muita inventividade e ócio poderia projetar. Não os critico, porém, pois acredito que as consecutivas passagens de tom deste meu primeiro livro atribuem muito valor ao resultado final, além de registrarem (por vezes, de maneira detalhada demais) as fases de um amadurecimento característico e esperado entre o fim da infância e a juventude.
Considero, também, este como um grande alívio e um tranquilo respirar a meu jovem eu, que viu e ouviu coisas demais ao entender que nem todas as suas maneiras de afeto seriam “aceitáveis” e teve na Poesia uma confidente, amiga e um ambiente seguro para contar sobre muitos alguéns e, principalmente, sobre como se sentia em não poder deixar-se transbordar e, por isso, ser bem pessimista em suas inúmeras paixões. Além disso, é um agradecimento à própria Poesia, por ser esse alguém tão próximo e contemplar e eternizar grande extensão de um eu inquieto e lírico.
Trata-se, portanto, de um autorretrato, um tanto quanto caricato, daqueles que imaginei ser, tentei ser e aqueles que, talvez, fui. Em exposição, também, há as acinzentadas pinturas que fiz e faço sobre o mundo e a sociedade e algumas, esporádicas, mais coloridas, sobre uns que sortudamente trombei nestes poucos anos de minha mocidade.