Vovô, Vinho, Vinil e Viola

Caro leitor/leitora, uns fragmentos de spoiler do que encontrará nesses contos:
“A neta tomou a benção, o avô sorriu, fez um afago na cabeça do cachorrinho, que cheirava seus pés, e esperou… Aguardou com um sorriso de avô nos lábios, e nos olhos pousados sobre a neta. A pequena pôs as mãos na cintura, virou-se, encarando seus acompanhantes como quem diz “Agora vocês vão ver, seus manés!”, e exigiu: – Vô, não é verdade que o senhor tinha dez cangurus?…”
(10 Cangurus)

“Sophia, do alto de seus cinco anos, tem perguntas que, guardada as devidas proporções, revelam um olhar percuciente sobre tudo e todos, bem como uma aguda percepção das coisas do mundo, sejam questões que envolvam as relações humanas, as subjetividades filosóficas ou coisas de somenos importância. Tudo isso se caracteriza por uma incontrolável curiosidade, um enorme desejo de agir e um insuperável talento para criar situações embaraçosas para seus pais e avós, como naquela vez em que seus pais receberam a visita de um amigo…”
(Peito do pé)

“Eu devia estar um tanto patético, feito fã diante do ídolo. O certo é que, sem ter a menor das intenções, eu o deixara intrigado com a minha atitude. E, para piorar, percebi que ainda não largara de sua mão, o que provavelmente devia aumentar nele a estranheza para comigo e, de quebra, pôr em dúvida minha inclinação sexual0…”
(Tomé de Souza)

“No domingo do Círio, era aquela azáfama que só quem é paraense conhece. Pela televisão acompanhávamos a grande romaria. Enquanto papai e os demais promesseiros da família seguiam na corda, mamãe ficava em casa, para cuidar de tudo. Ela se contentava em reverenciar a Virgem na procissão da trasladação, quando eu também ia.”
(Meu Círio inesquecível)

“Então sobreveio nova pontada no intestino. Gelei!… Mas gelei mesmo! Devo ter ficado mais pálido que o defunto porque Izaura quase gritou ao me olhar. Quando cheguei perto ela disse: “O que foi, querido? Você tá branco feito tigela de coalhada!”. Fiz uma careta e falei: “Agora vai!…”. Segui quase correndo por um pequeno corredor em direção a uma porta que julguei ser o banheiro. Entrei já me contorcendo: era o escritório do falecido!…”
(Vinho. Vinil e Viola)