A Gruta Hemática e o Movimento Poético Sublevarista — Terceira parte

Neste quarto livro do autor, a poética trabalhada é respaldada pelo movimento poético Sublevarista, e os poemas são divididos nas segregações temáticas: “O raro caso da mulher que chora ouro”; “A manhã de um cálamo sujo de fuligens”; “De longe, um lampadário monstruoso”; “Relógio, mísero morcego com dentes de metal”. Por meio deste livro, o autor prossegue a terceira parte do movimento poético Sublevarista, no qual é possível identificar a voz lírica sublevarista, que se encontra como uma instância que produz a enunciação, que cria um embate com o próprio poeta. Ela não só se afasta inteiramente da figura dele, como o enxota e se mostra ingrata com o próprio ofício poético executado por ele. Trata-se, assim sendo, de um sujeito lírico que se arquiteta contra o seu inventor com uma dinâmica própria, que tende à aversão para com a submissão à própria existência, já que, hipoteticamente, existe um fragmento de memória que lhe puxa para o vazio. É como se essa voz atravessasse, na inexistência, seus estágios de ovo, larva, ninfa e adulto; e fosse institucionalizada lá, sendo qualquer lugar, que não lá fosse, doloroso e não adaptável para si. Faz-se importante ressaltar que, especificamente neste volume, no conjunto de poemas nomeado como “A mulher que chora ouro”, existe a presença, majoritariamente, de um sujeito lírico que, além de ser uma espécie de Galatéia — que tenta aniquilar o seu Pigmalião —, possui voz poética que produz em suas glândulas lacrimais, ouro. Nessa perspectiva, ela chora ouro. Nas palavras do poeta: “Qualquer um, com mínima condução ao ingênuo castigo,/ Enfeitiçar-se-ia pelo antídoto que daquele olhar arqueja/ Não precisava ter visto, antes, um cultivo de trigo,/ Oliveira, cevada ou qualquer gramínea que seja.” Não obstante, o ouro extraído do choro é recusado.