Colina

Colina, por Maneco Nascimento

De volta à terra, a menina andarilha que busca, mesmo inconscientemente, a volta ao próprio chão perdido se traduz em Colina – a história dela. O livro reúne a narrativa de um “decaído” que encontra o caminho de casa, enquanto reconstrói a vida, que mal reconhece, e está presente nas vagas lembranças que lhe povoam sonhos, recordações entre o dormindo e o acorda-do, permeados no transe do milagre que foi possibilitado à cura do outro. A solidariedade curativa que não deixa de ser parte de si mesma a ser recuperada, enquanto obra na imposição das mãos infantis a satisfação interior e também o bem-estar, a melhora de vida e a saúde das pessoas que cruzam o seu caminho de redenção.
Aos passos de um anjo, Colina encaminha-se ao mito do eterno retorno, ao lugar de recuperação da vida perdida, mas achada no encontro com o seio da mãe e do chão familiar. Pequenos príncipes, meninos do dedo verde, entre outros exemplos visitados na literatura, do ser que vem com a missão e promessa de recuperar um tempo e uma obra que precisam ser confirmados, Colina faz o percurso de reintrodução na vida desgarrada por força de circunstâncias “obscuras”, porém determinantes de um vácuo a ser reconquistado e feito a partir de boas ações, milagrosas, desinteressadas de qualquer pagamento que não seja o do prazer de ver a cura surtindo efeito de felicidade a quem precisou de auxílio miraculoso.
A renovação da própria existência terrena e mortal se confunde com a materialidade divina lhe feita em graça. Ao invés de retornar aos céus, lugar de anjos, a menina chega à casa, terra ma-terna e chão dos penitentes que, naturalmente, continuará precisado do auxílio de quem carrega consigo a marca das chagas christinas que a ligam ao Divino. Colina se firma em assentar presença entre os seus, de memórias da terra e das chuvas que renovam a esperança, de afetividades e laços do milagre consanguíneos que abrem uma margem entre o semelhante à imagem do Criador que arbitra a criatura.